Sinais de autismo na alimentação e como a nutrição pode ajudar 

Neurodivergência e alimentação: não é só sobre autismo

Quando falamos sobre alimentação e neurodivergência, é comum que o autismo venha à mente. Mas é importante lembrar que esse termo pode incluir outras condições, como TDAH, transtornos de ansiedade e até transtornos alimentares. Cada uma dessas condições pode influenciar a relação com a comida, seja pela sensibilidade sensorial, impulsividade ou pelo uso da alimentação como uma forma de regulação emocional.

Sensibilidade sensorial e alimentação

Por exemplo, a sensibilidade sensorial pode se manifestar de diferentes maneiras, como evitar alimentos crocantes ou pegajosos, preferindo opções mais macias ou homogêneas, ou sentir desconforto com temperaturas muito quentes ou frias, buscando alimentos em temperaturas neutras. Sabores intensos, como o amargo ou o picante, podem ser difíceis de tolerar, resultando em uma alimentação restrita a sabores mais suaves. A aparência e a cor dos alimentos também podem ser decisivas, levando a rejeições com base nesses aspectos. Além disso, cheiros fortes, como temperos marcantes ou queijos, podem causar aversão e limitar as escolhas alimentares.

Entender esses padrões é essencial para buscar estratégias que promovam mais bem-estar. Hoje, vou explicar como essas condições podem afetar a alimentação e como a nutrição pode ser uma ferramenta de cuidado para quem vive esses desafios.

Como o autismo pode afetar a alimentação? 

Pessoas autistas costumam ter particularidades sensoriais que influenciam fortemente suas escolhas alimentares. Texturas, cheiros e sabores podem ser intensos demais, levando a uma alimentação restrita a poucos alimentos “seguros”. Além disso, algumas pessoas apresentam dificuldade em digerir proteínas do leite, trigo e soja, formando compostos que afetam o sistema nervoso e intensificam sintomas como irritabilidade.

Isso não significa que todas as pessoas autistas precisem cortar esses alimentos, mas indica que ajustes alimentares podem fazer diferença. Substituir fontes de proteína, introduzir novos alimentos de maneira gradual e cumprir as preferências sensoriais são estratégias importantes para ampliar a variedade alimentar sem causar sofrimento

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TDAH e a relação impulsiva com a comida

O TDAH, por sua vez, também tem um impacto importante na alimentação. De fato, a impulsividade e a dificuldade de planejar as refeições podem levar a episódios de compulsão alimentar, especialmente quando uma pessoa passa longos períodos sem comer e, de repente, sente uma fome extrema (Wiley, 2023).

Além disso, a busca por estímulos rápidos faz com que muitos prefiram alimentos ultraprocessados, cheios de açúcar e gordura. Como resultado, isso pode gerar oscilações bruscas de energia e sintomas piores, como irritabilidade e falta de foco.

Como a nutrição faz

Nesse contexto, a nutrição entra como aliada para organizar a rotina alimentar: refeições simples e lanches práticos ajudam a manter a energia estável ao longo do dia. Assim, essas pequenas mudanças fazem diferença tanto no controle da compulsão quanto na melhoria da concentração.

Por isso, se você sente que a alimentação desregulada piora o foco ou o humor, vale a pena conversarmos para construirmos juntos estratégias personalizadas.

Ansiedade, compulsão alimentar e busca por conforto

A preocupação é outra condição que se conecta diretamente à alimentação. Em momentos de estresse, é comum buscar alimentos que tragam conforto imediato que são geralmente ricos em açúcar, sal ou gordura. Isso acontece porque esses alimentos estimulam a produção de serotonina, trazendo um intervalo de alívio rápido, mas passageiro.

O problema é que esse padrão pode se transformar em compulsão alimentar, criando um ciclo de culpa e frustração. Para pessoas neurodivergentes, que já lidam com sobrecargas emocionais, essa relação com a comida pode ser ainda mais intensa.

Nesse caso, ajustar a alimentação para incluir alimentos que favoreçam a produção natural de neurotransmissores (como triptofano, magnésio e ômega-3) é uma estratégia que ajuda a reduzir a ansiedade de forma mais sustentável. E claro, trabalhar a relação emocional com a comida, com apoio psicológico, é essencial para quebrar o ciclo da compulsão.

Como a nutrição pode melhorar a qualidade de vida

Independentemente do diagnóstico, a alimentação tem um impacto direto no funcionamento do cérebro e na regulação emocional. Para pessoas neurodivergentes, isso é ainda mais relevante, já que ajustes simples,  como equilibrar os macronutrientes, evitar longos períodos de jejum e especificações sensoriais, podem trazer mais disposição, foco e bem-estar.

Mas é importante lembrar que cada corpo é único. O que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra, e tentar impor mudanças bruscas na alimentação pode gerar ainda mais resistência. Por isso, o acompanhamento nutricional precisa ser individualizado, feito com paciência e respeito às necessidades de cada pessoa.

Se você sente que a alimentação está impactando sua saúde física ou mental, procure ajuda profissional pode ser o passo que faltava para melhorar a qualidade de vida. E se quiser saber melhor como funciona esse tipo de acompanhamento, estou aqui para conversar

 

Referências: 

KINAIRD, Emma; SEDGEWICK, Felicity; STEWART, Catarina; TCHANTURIA, Kate. Explorando sintomas de transtorno alimentar autorrelatados em homens autistas. Autismo na Idade Adulta , v. 1, n. 4, pág. 306-310, 1 dez. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1089/aut.2019.0017 . Acesso em: 5 mar. 2025.

KERR-GAFFNEY, Jess; HARRISON, Amy; TCHANTURIA, Kate. Empatia cognitiva e afetiva em transtornos alimentares: uma revisão sistemática e meta-análise. Frontiers in Psychiatry , 2019. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fpsyt.2019.00102 . Acesso em: 5 mar. 2025.

MAKIN, Lauren; ZESCH, Elisa; MEYER, Adia; MONDELLI, Valéria; TCHANTURIA, Kate. Autismo, TDAH e suas características em adultos com bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica: uma revisão de escopo. Revisão Europeia de Transtornos Alimentares , 26 jan. 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1002/erv.3177 . Acesso em: 5 mar. 2025.

NOVAES, Estela Brasil Frauches; SILVA, Juliana Ferreira da. A transformação do espectro autista e como a alimentação pode influenciar na qualidade de vida. Revista Brasileira de Implantologia e Ciências da Saúde , v. 6, n. 11, pág. 412-413, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2024v6n11p412-4130 . Acesso em: 05 mar. 2025.

 

 

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